Foi uma surpreendente descoberta. Este crustáceo, quase extinto no Brasil em razão da pesca predatória, pode ter cores tão exóticas como azul, branca, verde, ou amarela.
As lagostas, antes abundantes no Nordeste, especialmente no Ceará, praticamente acabaram. Motivo? A pesca predatória, sem controle, sem fiscalização. Já expliquei em dezenas de textos, que a costa brasileira está ao deus- dará. A fiscalização, seja para a pesca, seja para a construção em locais proibidos como dunas, praias, etc, inexiste. Em resumo: em nosso litoral impera a lei do mais forte (ou do mais rico…). Praias são privatizadas, e agora, até a lâmina d’água tem sido “privatizada” por donos de mansões no litoral. Um total absurdo.
Apesar do crustáceo ser encontrado desde o Pará, até Cabo Frio, no Rio de Janeiro, numa extensão contínua de 4.000 mil quilômetros, única no mundo, ela está quase extinta (comercialmente falando) no Brasil. Seu habitat é constituído de substratos de algas calcárias bentônicas (relativo a profundidade), e elas habitam as águas tropicais, subtropicais e temperadas. No Brasil a área de captura comercial distribui-se entre os estados do Amapá, até o Espírito Santo. As lagostas são encontradas desde pequenas profundidades, até cerca de 400 metros!
Pescadores do Nordeste usam equipamentos rudimentares de mergulho para as capturas, não respeitam o tamanho mínimo, nem o defeso. Muitos acabaram aleijados em razão de acidentes durante o processo. No Brasil a pesca da lagosta quase deu em guerra com a França. O bafafá, conhecido como Guerra da lagosta, aconteceu em 1960, quando a França despachou pesqueiros para o litoral de Pernambuco. Nos anos 60 a lagosta representava cerca de 3 milhões de dólares de lucro para a balança de exportação do Brasil.
No país de Macunaíma não há estatísticas para a pesca. Achei um estudo na internet, de 2013, que informa o seguinte:
Nos últimos anos a exportação gira em torno de 2.500 toneladas, o que corresponde a 50 a 90 milhões de dólares. Nos últimos cinco anos, porém, vem sendo observada uma tendência de queda, atingindo cerca de 35% na produção e nas exportações no ano de 2012…No período de 2000 a 2012, as exportações oscilaram em torno de 2.200 toneladas, com um pico de 2.767 t em 2002. Desde 2010, verifica-se um declínio das exportações, acentuado em 2012, quanto foi registrada a menor quantidade exportada no período, apenas 1.474 toneladas.
Deve-se reconhecer que, em parte, esse declínio (apenas 1.474 toneladas) deve-se à proibição da importação de lagostas com comprimento de cauda inferior a 14,5 centímetros pelo governo americano.
Não fosse esta restrição o povo estaria pescando lagostas abaixo do tamanho mínimo, muitas vezes, antes ainda do animal entrar no período de reprodução.
Acredito que atualmente os Estados Unidos não importam mais o cretáceo. Informações da BBC dão conta que uma bonança na produção de lagosta americana está derrubando os preços e massificando o consumo de tal maneira que até o Mc Donald’s já começou a oferecer sanduíches feitos com o crustáceo. Mas a popularização da lagosta também preocupa alguns especialistas, que apontam que o boom de produção só foi possível graças às mudanças climáticas que provocaram o aquecimento dos mares próximos à costa leste americana. Cerca de 85% da lagosta consumida nos Estados Unidos vem de Maine, Estado na divisa com o Canadá que aumentou sua produção de maneira dramática nos últimos anos.
Lagostas diferentes e Centenárias
Uma última curiosidade sobre as lagostas: elas podem viver até bem mais que cem anos. Uma das mais velhas foi pescada, passou um tempo num aquário de um restaurante, e finalmente foi devolvida ao mar. Sua idade foi estimada em 140 anos. Se a fonte não fosse a BBC eu diria que se trata de mentira de pescador. Mas não é.
(Do site Mar Sem Fim, de João Lara Mesquita)