Acompanhe a soltura de Diogo, macho de seis anos que voltou ao mar na APA Costa dos Corais
Dócil, bonachão e brincalhão, ele não é peixe nem boi. Mas recebeu o nome peixe-boi porque une características desses dois animais: vive na água e passa até oito horas por dia pastando, alimentando-se de algas, aguapés, capins aquáticos. Manso e caseiro (mama até os dois anos de idade) foi por muito tempo caçado e se encontra em risco de extinção, por isso é protegido por lei desde 1967.
A estratégia é reintroduzir peixes-boi como forma de reconectar duas populações do animal existentes no litoral brasileiro que hoje estão isoladas: a do litoral do Amapá, e a da Costa dos Corais. Com isso, proporcionar o fluxo genético da espécie, reduzindo assim as suas chances de extinção.
O Portal ECOInforme foi convidado pela Fundação Toyota, que patrocina a preservação, para assistir a soltura do Diogo, um peixe-boi que, como muitos, encalhou na praia ainda bebê, foi resgatado e cuidado pelo pessoal da Costa dos Corais. Os animais resgatados são levados para reabilitação em centros em Recife e em Fortaleza e em seguida transferidos para a APA para serem preparados para serem devolvidos à natureza. Naquele local ele tem as condições ideais, com grande quantidade de capim agulha, principal alimento da espécie. O peixe-boi suporta bem a variedade de águas – salgada e doce – por isso o manguezal é o seu lugar perfeito; é onde ele vive boa parte dos seus dias e se reproduz.
No mangue onde ficam confinados os peixe bois resgatados tem um cativeiro, chamado de curral, um cercado de madeira onde ele se adapta à variação da maré e à salinidade.
O momento da soltura é crucial para o sucesso da ação. É uma cerimônia, levada a cabo por dezenas de voluntários, entre eles professores, doutores, pesquisadores e o pessoal local, que se tornou especialista no manejo da espécie. Por balsas, nos aproximamos do curral onde Diogo foi resgatado, uma vez que é proibida a navegação no local com barco a motor.
Com uma enorme rede, os voluntários vão fechando o cerco junto ao animal, que se debate até ser levado para a margem, onde recebe um rastreador que oferecerá a sua localização para estudos e eventual novo resgate, caso os técnicos considerem que ele não tenha se adaptado à vida livre.
Essa soltura foi a segunda deste ano e Diogo é o 46° peixe-boi marinho devolvido à natureza no Brasil desde 1994. A APA Costa dos Corais é o único sítio de soltura atualmente em operação no País.
Joel Leite, da Costa dos Corais