Decreto do presidente Bolsonaro expõe cavernas a empreendimentos com implicações ao meio ambiente
As cavernas brasileiras, que abrigam animais raros e muitas delas fósseis, além de contribuir para a manutenção das águas, estão correndo risco com abertura de áreas à exploração comercial.
Estão sob ameaça devido a decreto que autoriza construções de alto impacto nessas áreas. Das 22 mil cavernas resguardadas, hoje, 30% possuem máxima proteção.
O pesquisador brasileiro Hernani Oliveira, associado ao Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia e pós-doutorando na Universidade Federal do Pará, ressalta em artigo na conceituada revista Nature, os riscos que a decisão traz para a vida nas cavernas e explica a relevância desses locais ao equilíbrio do ecossistema, como, por exemplo, o abastecimento de aquíferos.
Ele destaca que o decreto nº 10.935/2022, assinado em 12 de janeiro pelo presidente Jair Bolsonaro, expõe cavernas a empreendimentos com implicações e tem sido alvo de debates entre comunidade científica, sociedade civil e esferas do poder público. Por revogar a regra que proíbe danos irreversíveis em cavernas classificadas como de alta prioridade e relevância, o documento teve parte de seus efeitos suspensos para discussão no STF (Supremo Tribunal Federal).
“A exploração comercial dessas áreas coloca em risco espécies raras de animais que só existem em algumas poucas cavernas de máxima proteção, como peixes, insetos e aracnídeos”, diz o pesquisador.
Muitos animais que vivem nas cavernas não têm olhos, uma adaptação pelo fato de viverem totalmente no escuro. Mas têm antenas e aparelhos olfativos bem desenvolvidos. Entre as espécies mais ameaçadas estão os peixes Trichomycterusitacarambiensis, o bagrinho-de-caverna, que vive somente na caverna Olhos d’Água, na bacia do São Francisco em Minas Gerais, e Eigenmanniavicentespelaea, peixe-elétrico conhecido como ituí, encontrado em cavernas da região de São Domingos, na Bahia. O ituí está no livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção.
“Os empreendimentos, inevitavelmente, vão impactar os ecossistemas da fauna cavernícola, atrapalhando o ciclo natural de vida dessa biodiversidade”, diz o pesquisador.
Protegidas, as cavernas desempenham serviços ecossistêmicos de abastecimento de aquíferos e de formação de solo, contribuindo também para a manutenção de ciclos de nutrientes, como os ciclos do carbono, do oxigênio e do nitrogênio.