Por Viviane Mansi, presidente da Fundação Toyota do Brasil

Mais da metade do PIB mundial depende da natureza e dos seus diversos elementos. Buscar caminhos mais sustentáveis é, portanto, sinônimo de sobrevivência. Quando olhamos o nosso “quintal”, Brasil corresponde a 17% de todo território terrestre dos trópicos; os nossos biomas são mostras inestimáveis da biodiversidade mundial. Mais de 20% dos peixes de água doce e 17% de todas as aves do planeta são encontrados aqui. Soma-se a isso o fato de que nossos biomas tropicais também funcionam como repositórios naturais de carbono. Esses números, expressivos, demonstram a importância e contribuição do país para a biodiversidade e estabilidade do clima. Por outro lado, os dados referentes à extinção de espécies são alarmantes. Pesquisadores da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) afirmam que quase 30 mil espécies correm o risco de desaparecer.

Diante desse cenário, é primordial entender o que vem sendo feito para mitigar os danos e conservar os biomas e ecossistemas que fazem parte deste cenário ambiental mais amplo e global. Com esse objetivo, há inúmeros projetos ambientais em curso, desenvolvidos e financiados tanto pelo setor privado quanto pelo terceiro setor, que trabalham para o avanço dessa agenda. Segundo o último Censo GIFE, realizado em 2020, foram investidos R$ 5,3 bilhões, doados por empresas, institutos e fundações empresariais, familiares e independentes, em projetos de finalidade pública. Um desses exemplos é o Projeto Arara Azul que, há 32 anos, atua na conservação da biodiversidade e para manter populações viáveis de araras azuis no seu ambiente natural. Para isso, realiza ações como monitoramento, manejo de ninhos e atividades de educação ambiental. No último ciclo reprodutivo, de abril de 2021 a abril de 2022, foram realizadas quase 3 mil visitas a campo, com 310 ninhos monitorados, quase 130 manejados, além de centenas de palestras para promover a conscientização ambiental nas regiões atendidas. Números que precisam ser celebrados, pois representam um grande sucesso no período reprodutivo das araras azuis e no avanço da conservação ambiental.

O diálogo entre organizações que atuam com propósitos semelhantes possibilita uma atuação em rede e, consequentemente, um maior alcance das suas ações. Um exemplo disso é a parceria da Fundação Toyota do Brasil com a Fundação SOS Mata Atlântica e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em prol da Área de Proteção Ambiental (APA) Costa dos Corais. Na região, maior unidade de conservação marinha do Brasil com mais de 400 mil hectares, são executadas atividades com o objetivo de proteger os recifes de corais, as áreas de manguezais e toda a flora e fauna de uma área que se estende do litoral sul de Pernambuco ao norte de Maceió, em Alagoas. No decorrer do desenvolvimento desse trabalho já foram realizadas mais de 1 mil ações de fiscalização e atendimentos a encalhes de espécies, reintrodução de 18 peixes-boi ao seu habitat natural, além da promoção de práticas voltadas para a educação ambiental da população, que resultaram em quase 75 mil moradores conscientizados. Portanto, são projetos assim, sérios e engajados na construção de um futuro melhor para todos, que serão capazes de mobilizar e beneficiar inúmeras pessoas ao mesmo tempo em que causam impactos positivos na natureza.

É crucial compreender que todos os objetivos e metas estabelecidos pela ONU necessitam da atenção da sociedade para que haja uma evolução integrada no que diz respeito às dimensões socioambiental e econômica. No entanto, é preciso compreender o alcance dos ODS que, ao contemplarem ações voltadas para a conservação da biodiversidade, a exemplo do ODS 15, da Vida Terrestre, e o 13, da Ação Contra a Mudança Global do Clima, estão influenciando, diretamente, no futuro da humanidade, e na possibilidade de continuarmos existindo neste planeta. É preciso seguirmos confiando, investindo e estimulando o surgimento e a manutenção de projetos ambientais que atuam nesse sentido, pois é só a partir de uma cooperação mútua, ágil, com propósito, planejamento e pensamento coletivo que conseguiremos atravessar a crise ambiental que aplaca o nosso país e o mundo.
Aos céticos, que se perguntam se biodiversidade é mesmo prioridade, esta reflexão não é para vocês. Tenho consciência de que os argumentos racionais não são suficientes, pois atitudes dependem também da nossa crença pessoal em tudo isso. Aos corajosos, contamos com vocês.