Descarbonização é a palavra de ordem no mundo civilizado
A luta pela descarbonização do Planeta está na ordem do dia. Não por acaso. A comunidade global parece ter acordado (espera-se, não tarde demais) para a necessidade imperiosa da redução drástica das emissões de gás carbônico e demais gases de efeito estufa.
Em menos de dois séculos, o uso do petróleo – que transformou o mundo com a Revolução Industrial e proporcionou a ampliação exponencial do consumo e do bem-estar para grande parte da população mundial – também se converteu no grande vilão, responsável pelo aquecimento das calotas polares e suas drásticas consequências. Está provado: caso o nível de emissões não seja controlado, em menos de cem anos o mundo vai viver uma catástrofe, com bilhões de refugiados do clima expulsos das suas terras, que se tornarão estéreis, incapazes de gerar qualquer tipo de vida vegetal, agricultura e vida animal (veja gráfico 1).
Mantido o nível atual do uso de petróleo, o Planeta vai atingir uma temperatura média 3,7 Cº acima do período pré-revolução industrial, provocando ondas de calor extremas, muito mais graves do que as já problemáticas ondas de calor existentes hoje, quando registramos aquecimento médio de 1,2 °C.
Algumas regiões se tornarão inabitáveis durante parte do ano, fenômenos naturais como furacões, ciclones e tempestades serão mais frequentes. Secas severas atingirão as florestas, que poderão sofrer incêndios de grandes proporções e serem transformadas em savanas, perdendo, portanto, a sua função primordial ao meio ambiente, que é a captura de CO2.
O derretimento das calotas polares, em função do aquecimento global, vai provocar a elevação do nível do mar e consequentemente a inundação de cidades costeiras. Os oceanos sofrerão com o colapso dos ecossistemas marinhos, a destruição de barreiras de corais e a redução da vida marinha.
A produção de alimento será duramente afetada, com quebra de safras, escassez e o consequente aumento dos preços, levando a fome às populações mais vulneráveis.
Nossa! Esse é o retrato do caos!
Isso mesmo, chegaremos ao colapso se nada for feito.
Considerando que o homem faz uso dos derivados do petróleo há menos de 160 anos (o primeiro poço de petróleo foi furado em 1859), é possível compreender o impacto do uso da energia fóssil no meio ambiente foi espantoso. Temos que reagir com a mesma rapidez e potência para mantermos o Planeta habitável.
Só existe uma maneira de reverter esse cenário e evitar o colapso do planeta: a descarbonização. E como fazer? Reduzindo drasticamente a emissão de gás carbônico e demais gases de efeito estufa, protegendo os oceanos e proporcionando a regeneração de solos, que retêm metade da demanda necessária para neutralizar o gás carbônico emitido na atmosfera.
Mas apesar da resistência de alguns países, a comunidade internacional, de um modo geral, tem se comovido diante da catástrofe ambiental que se avizinha e medidas de redução das emissões têm sido adotadas em todos os setores.
A luta pela redução das emissões vem sendo monitorada pelos organismos mundiais. A última recomendação é de que o mundo reduza 50% das emissões até 2050 (a base é 2005).
O Acordo de Paris, assinado por 195 países em 2015, foi um marco na luta contra as mudanças climáticas, e propõe a limitação do aquecimento global, a redução das emissões de gases de efeito estufa e a neutralidade de carbono a partir de 2050. Mas desde as décadas de1970 já se falava da necessidade de reduzir o uso de combustíveis fósseis. O Protocolo de Kyoto, em 1997, foi o primeiro tratado internacional de redução de emissões e atualmente a COP – Conferência das Partes, da ONU, é o fórum de discussão e tomada de decisões sobre o combate às mudanças climáticas. Há uma grande expectativa em relação à COP 25, que será realizada em Belém, no Pará, em dezembro de 2025.
Apesar de ser visto como o grande vilão da poluição, o setor de transporte não é o maior responsável pelas emissões globais. No Brasil, menos ainda (veja gráfico 2), pois ele responde aqui por apenas 14% das emissões.
Na Europa, o transporte representa 24% das emissões e nos Estados Unidos 30%. Os maiores responsáveis pelas emissões de CO2 no Brasil são: a agropecuária, com 35% do total, e a mudança de uso da terra e florestas (desmatamento), com 26%. O uso da energia para outros setores, que não o transporte, é o maior vilão de todos os países listados no gráfico: na Índia ele representa 62% e nos Estados Unidos 77%. No Brasil, apenas 19%.
A produção de carne bovina no Brasil, da forma como é feita atualmente, emite mais do que o dobro do limite necessário para cumprir metas ambientais internacionais, conforme pesquisa publicada nesta semana na revista Environmental Science and Pollution Research. As emissões do setor podem variar de 0,42 a 0,63 gigatonelada de CO2 equivalente (GtCO2e) até 2030, enquanto o limite para atender à meta seria de 0,26 GtCO2e. (As estratégias de mitigação ao longo da cadeia produtiva poderiam evitar perdas de até US$ 42,6 bilhões.).
João Irineu Medeiros, vice-presidente da Stellantis e autor dos gráficos que ilustram essa matéria, revela que as emissões de CO2 provocadas por um boi no pasto em um ano equivalem ao que um carro popular com motor a gasolina emite durante o mesmo período.
Meta do setor é reduzir emissões
Mesmo fazendo intenso uso do etanol, combustível menos poluente e renovável, o setor automotivo no Brasil emite cerca de 240 milhões de toneladas de CO2 por ano. Com o uso de novas tecnologias e a ampliação do consumo de biocombustíveis, o País poderia reduzir drasticamente as emissões nos próximos anos.
Os fabricantes avaliam medidas necessárias para atingir esses objetivos, entre elas: inspeção veicular, renovação da frota, reciclagem de veículos e aumento do poder calorífico do etanol.
Duas delas parecem bem distantes de serem realizadas:
– A renovação da frota. Pela dificuldade de acabar com a circulação de veículos com mais de 30 anos de vida, que ainda têm um forte apelo comercial, um mercado vigoroso, especialmente nas periferias e nos rincões, e além disso o governo não dispõe de verba para escrapear veículos ainda utilizados e oferecer subsídio para os seus proprietários comprarem um modelo mais novo.
– A reciclagem de veículos. Uma alternativa pouco provável de efetivação a curto e médio prazo. Apesar da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), não há leis específicas e não se vê iniciativas concretas, talvez pelo alto custo de investimento em maquinários e operação.
Já o aumento do poder calorífico dos biocombustíveis e a inspeção veicular são medidas mais plausíveis de serem realizadas e curto prazo.
A eletrificação da mobilidade é a alternativa mais nova e mais rápida na busca pela redução das emissões, tecnologia que tem avançado rapidamente no mundo e que pode, de fato, reduzir drasticamente as emissões, pelo menos no que se refere ao uso do veículo. O problema persistente quando se analisa todo o processo produtivo do veículo, do chamado do poço ao túmulo, ou mesmo quando a energia usada na propulsão do veículo é proveniente de fontes sujas.
O Brasil endossa e segue o avanço das tecnologias que buscam a redução das emissões, e, mais ainda, dá um passo adiante com o uso do etanol. Consorciado com a eletrificação, o combustível da cana-de-açúcar garante uma redução de emissões incomparável com as demais tecnologias existentes hoje comercialmente, incluindo, em alguns casos, o uso do veículo elétrico puro.
Com uma infraestrutura ainda incipiente, a eletrificação, afinal, vai avançando, incrementada com a chegada de marcas chinesas, que já são responsáveis por um bom volume de vendas no varejo e atraem outras conterrâneas a investirem no Brasil.
Como afirmam os especialistas, é difícil saber qual será (se houver) a tecnologia que vai dominar o mercado. A tendência é de que há espaço no mercado para todas as formas de propulsão da mobilidade, desde que venham para contribuir para a redução das emissões, o que é primordial para que possamos garantir um planeta saudável.