Passeio pelo canal de Beagle antecedeu chegada a Puerto Almanza, vila de 32 habitantes, onde equipe conheceu um pescador de centolla
Chegou o dia de Amyr Klink colocar o barco na água. Desde a saída de São Paulo, há 13 dias, esperávamos a oportunidade certa. Ela apareceu hoje, depois de rodarmos uns 60 quilômetros a partir de Ushuaia. Pegamos uma estrada de cinema, beirando o Beagle, o canal que separa Argentina e Chile. Uma espécie de baia surgiu, relativamente abrigada do vento e rodeada de lengas, as típicas árvores da Patagônia. Amyr brecou o HR-V e chamou pelo rádio. “É aqui”.
Tiramos o barco inflável do carro e o enchemos debaixo de chuva e frio. Minutos antes, perto do cerro Castor, conhecido pico de esqui da região, havia chovido granizo e nevado, pela primeira vez na viagem. Fazia frio. Tiramos, também de trás dos bancos dianteiros, o motor náutico Honda 20 hp. O frio perto de zero grau e a chuva insistente dificultaram a montagem do barco. Mas em meia hora Amyr estava pronto para voltar a navegar, depois de quase 7 mil quilômetros de carro.
Ao seu estilo, com um remo improvisado na mão para as manobras no raso, afastou-se da margem e ligou o motor. O remo, diga-se, foi feito com um serrote comprado no dia anterior por Amyr. Coincidência ou não, nesse momento o sol escapou das nuvens e apareceu, ajudando a aquecer a manhã fria. Amyr se mandou. Foi embora pelo canal de Beagle. Só voltou quando sentiu um vento querendo levá-lo em direção ao estreito de Drake. “Fui para Antártica mais de 40 vezes. Só faltava ficar a deriva aqui”, brincou o navegador.
Depois do passeio nas águas geladas, a viagem seguiu para Puerto Almanza, uma minúscula vila de pescadores com 32 habitantes. De lá é possível avistar a cidade chilena de Puerto Williams, no Chile, para onde vamos no dia 22. Apesar de estar logo ali do lado, para chegar lá de carro é preciso subir até Punta Arenas e pegar uma balsa de 32 horas. Passamos pelo porto do povoado. Ninguém nas ruas. Frio. Mas uma luz acesa nos fez parar diante de uma casa laranja com a placa Restaurante La Sirena y el Capitan.
Fomos recebidos por Sergio Corvo, o capitão. Ele era carpinteiro em Buenos Aires. Foi fazer um serviço em Rio Grande, deu uma esticada a passeio até Puerto Almanza e decidiu ficar. Virou pescador de centolla e abriu o restaurante. Usa carne de castor para fazer as iscas e lançá-las com suas redes. Conforme a época do ano, os bichos podem viver a 100 metros de profundidade. Joel preferiu pedir mariscos e vieira, mas Amyr deliciou-se com a centolla. Um bom exemplar do bicho custa 50 dólares no restaurante. Vale. Não só devido ao sabor, mas ao aconchego, à decoração e à simpatia de Corvo e de sua mulher, uma antiga cliente do restaurante com quem Sergio se casou.
Na volta para a Ushuaia, com o tempo mais encoberto do que o encontrado no caminho de ida, foi fácil ficar deslumbrado com o visual das montanhas que cercam Ushuaia. São grandes e imponentes. E estavam com boa parte da encosta tingida de branco pela neve – espetáculo escondido de manhã pelas nuvens. Amanhã, a ideia é conhecer Desdémona…
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